Porquê o cavalo?
É tido que o andar do homem é 95% semelhante ao andar do cavalo, que através de um movimento em três planos (vertical, frontal e sagital) proporciona input físico e sensorial que é variável, rítmico e repetitivo. O andamento a passo produz cerca de 60 a 75 movimentos tridimensionais por minuto, proporcionando ao sistema nervoso central uma grande fonte de estímulos sensoriais. O dorso proporciona um correto posicionamento sentado, sendo que, no global, o contacto com o cavalo e todo o ambiente circundante é facilitador da resposta do sistema nervoso central.
No que concerne aos tipos de andamento, destacam-se o passo (mais lento, cadeado, simétrico, sem tempo de suspensão), o trote e o galope (andamentos saltados, mais rápidos, com tempo de suspensão).
O que engloba a Equitação com Fins Terapêuticos?
O termo Equitação com Fins Terapêuticos é adotado pela APCB no sentido de abarcar três modalidades de intervenção terapêutica com o cavalo: a hipoterapia, a equitação terapêutica e a equitação adaptada.
- Hipoterapia: nesta modalidade o sujeito é passivo na condução do cavalo, sendo que o objetivo não consiste em aprender a montar, mas sim aproveitar os estímulos que o cavalo proporciona. O cavalo emerge como um agente sensório-percetivo e cinesioterapêutico. A intervenção utiliza o backriding como técnica, isto é, o terapeuta monta o cavalo em simultâneo com o cliente, apoiando o seu posicionamento durante o andamento;
- Equitação Terapêutica: comparativamente com a hipoterapia, na equitação terapêutica o cliente pode ser mais ativo na condução do cavalo. Para além de manter as suas funções sensório-percetivas e cinesioterapêuticas, acresce-se com maior relevo o seu papel motivador, relacional e educativo. Neste modalidade é possível utilizar diversos tipos de equipamentos e materiais que enriquecem a intervenção;
- Equitação Adaptada: nesta modalidade o cliente é ativo na condução do cavalo, sendo o principal objetivo da intervenção a integração social, fomentada pelo aumento de participação do cliente. A equitação adaptada permite potenciar as habilidades equestres do cavaleiro, sendo possível utilizar equipamento adaptado para a melhoria do desempenho na atividade.
A escolha do cavalo
Nem todos os cavalos têm competências que permitam realizar Equitação com Fins Terapêuticos, dadas as especificidades das modalidade envolvidas. O cavalo deverá ser calmo, meigo e confiante, e apresentar um comportamento constante. Habitualmente são cavalos com idade superior a 10 anos, sendo a altura ideal até 1,5 metros e com pouca largura de dorso, sem alterações estruturais. Tais características permitirão um andamento confortável, simétrico e calmo. Deve também ser um cavalo não reativo a material e equipamento.
Principais benefícios terapêuticos
Para além dos aspetos já referidos, a Equitação com Fins Terapêuticos aporta toda uma diversidade de benefícios para a pessoa com Paralisia Cerebral e situações neurológicas afins, nomeadamente, a melhoria do controlo postural, o alongamento muscular, a dissociação e qualidade dos movimentos, a modulação do tónus, o padrão de marcha, a resistência muscular, estabilidade articular, controlo de reações associadas, melhoria nas funções sensoriais, aumento da motivação, fatores psicomotores, melhoria da comunicação, da atenção, da memória, da participação e outros.
Destinatários da Equitação com Fins Terapêuticos
Pese embora os seus inúmeros benefícios, a Equitação com Fins Terapêuticos não é indicada para todos os quadros clínicos. Com efeito, existem situações para as quais a Equitação com Fins Terapêuticos é contra-indicada, a saber:
- Lesões graves da coluna vertebral;
- Luxações da anca;
- Instabilidade atlanto-occipital;
- Diminuição da sensibilidade;
- Presença de feridas e úlceras;
- Cardiopatia grave;
- Utilização de próteses internas;
- Osteoporose;
- Gessos;
- Alergias;
- Períodos de forte crescimento;
- Fase evolutiva de escoliose;
- Edemas;
- Tendência para escaras;
- Epilepsia não controlada;
- Ansiedade exagerada;
- Algumas doenças mentais;
- Outras.
Por outro lado, a Equitação com Fins Terapêuticos poderá ser uma grande mais-valia para os seguintes quadros, para os quais se encontra indicada:
- Paralisia Cerebral;
- Acidentes Vasculares Encefálicos;
- Traumas Crâneo-Encefálicos;
- Disfunções integração sensorial
- Perturbações Pervasivasdo Desenvolvimento;
- Síndroma de Down;
- Dependência de químicos;
- Stress e depressões;
- Problemas ortopédicos;
- Doença de parkinson;
- Amputações;
- Alterações visuais;
- Dificuldades de Aprendizagem;
- Perturbações do comportamento;
- Perturbações da comunicação;
- Perturbações da alimentação;
- Deficiência Mental;
- Algumas doenças mentais;
- Outras.
Características das sessõesHabitualmente, numa sessão de Equitação com Fins Terapêuticos a equipa presente é constituída pelos seguintes elementos: o cavalo, o cliente, o técnico (que lidera a sessão), o guia e o acompanhante. As instalações podem variar, podendo ser realizada uma sessão em picadeiro fechado, em picadeiro semi-aberto ou em campo aberto. Ao nível dos equipamentos utilizados destacam-se as escadas, os acessórios de transferência e a rampas que permitem ao cliente montar o cavalo, consoante as suas características de mobilidade.
No que concerne ao cavaleiro, o equipamento utilizado é o toque, as calças, as botas, roupa confortável (i.e. sem vincos, utilizando-se normalmente calças elásticas), sendo que blusões grandes e cordões devem ser evitados. O equipamento do cavalo poderá ser adaptado consoante os objetivos de cada sessão, sendo possível adotar a sela portuguesa, a sela inglesa, uma sela adaptada ou uma manta, cobertor e almofada. O cavalo devem também estar equipado com silhão e poderá ter as rédeas adaptadas, caso o cliente necessite pelas suas características. O material de intervenção habitualmente utilizado são bolas, arcos, cones, molas, imagens e brinquedos.
O início de uma sessão não começa somente em cima do cavalo. Existe todo um trabalho realizado imediatamente após o momento em que o cliente chega ao picadeiro. A adaptação é uma fase antecipatória do montar que ajuda a antecipar e a regular o comportamento. O tocar, cumprimentar, estabelecer relação com o cavalo é uma experiência sensorial e de comunicação riquíssima para o decorrer da sessão. Exemplos de materiais de intervenção
Fonte: Associação de Paralisia Cerebral de Braga